sexta-feira, 6 de maio de 2011

Antropologia e Internet
 
 
 
Pesquisa e Campo no Meio Virtual 
 
 
Rita Amaral
Núcleo de Antropologia Urbana da Universidade de São Paulo
 


 
 

Introdução
Durante a sessão de defesa de minha tese de doutorado sobre as festas brasileiras, defendida em 1998, um dos aspectos mais notados e comentados com grande curiosidade pela banca foi o uso que fiz de dados coletados em fontes da Internet e de conversas e entrevistas realizadas em chats (conversas por computador, em tempo real) com a finalidade de atualizar as informações sobre as festas que estudei nas cinco diferentes regiões do país. Não se questionava a validade ou não do uso destas fontes, que a todos pareceu legítimo, mas compreender mais profundamente de que modo se insere um antropólogo no “campo” virtual, onde categorias básicas do entendimento humano como tempo, espaço, corpo etc, encontram-se “deslocadas” e as pessoas estão, de certa maneira, “homogeneizadas” em sua presença na tela do monitor do computador. Por esta razão, apresento neste artigo algumas idéias e informações sobre as condições de pesquisa utilizando computadores e a rede Internet.
Le MondeSe muitos antropólogos ainda não consideram o computador como um instrumento de pesquisa, a maior parte de nossa “tribo” já utiliza com familiaridade seu computador pessoal como processador de texto e boa parte dela também como via de acesso à Internet para enviar mensagens eletrônicas (e-mails) para os colegas . Tem-se deixado, entretanto, de explorar os recursos do computador como instrumento de pesquisas, e não apenas para a organização e análise estatística dos dados que recolhemos em campo (quando dominamos a operacionalização dos programas -softwares- indicados para estas finalidades). O que pretendo levantar como tema de discussão aqui é o fato de que, devido à imensa versatilidade advinda não apenas da simplificação do uso dos programas, mas também das novas facilidades de acesso à rede Internet, os computadores podem e devem ser usados efetivamente para a realização de pesquisas qualitativas pelos cientistas sociais.
 
O reconhecimento da pesquisa qualitativa como uma atividade sistemática e o desenvolvimento de programas de pesquisa interdisciplinares têm chamado a atenção de alguns acadêmicos (especialmente norte-americanos, para os quais o acesso à tecnologia informática se deu bem mais cedo e certamente com custos muito menores), para o uso do computador como um auxiliar também nas pesquisas na área de antropologia e em sua publicação, especialmente nos últimos dez anos, com a expansão e popularização do acesso à Internet (Anderson, 1990; Bernard, 1994; Chesebro, 1989; Hudson, 1990; Jones, 1995)  O tipo de dados (qualitativos) nos quais um pesquisador pode estar interessado (textos, falas, música, filmes, fotografias e outros tipos de comunicação) vêm se tornando cada vez mais digitalizáveis e, desse modo, passíveis de serem transmitidos via modem entre computadores, ou postados e capturados na rede Internet. Com isso, os computadores podem transformar, em alguns sentidos, o modo pelo qual a pesquisa qualitativa vem sendo feita e, até mesmo, sugerir novas pesquisas sobre o próprio uso da Internet como fonte de dados ou como espaço de relacionamento entre grupos.
 
A partir de minha experiência de pesquisa foi possível constatar que o uso do computador e da rede Internet pode ajudar a solucionar alguns dos problemas práticos durante as várias fases de uma pesquisa: desde a coleta de dados até a apresentação. Pode-se discutir se o uso do computador é possível na fase de análise, a mais árdua delas. Não creio que possa responder a esta questão neste artigo, uma vez que em minha pesquisa, esta fase não se fez, de fato, com o uso do computador, o que também não significa, segundo entendo, que não possa ser feito. É possível, por exemplo, pensar na utilidade da discussão de nossas conclusões com pesquisadores diversos via e-mail ou chat. Deixo em suspenso, portanto, esta discussão. Em outras fases da pesquisa, contudo, o uso do computador pode ser de grande ajuda e não deve ser desprezado.
 
 
A Internet como fonte de dados
 

 
Um dos primeiros usos da rede Internet numa pesquisa antropológica pode ser feito já durante a elaboração de um projeto de pesquisa. Se o pesquisador tem uma investigação em mente, ele pode usar a  rede para consultar as várias bibliotecas do mundo e verificar o que existe sobre seu tema de pesquisa. Em algumas bibliotecas é possível solicitar o envio de cópias pelo correio, debitando-se seu custo no cartão de crédito internacional. Em outras pode-se simplesmente transferir, via modem, para o computador pessoal, o arquivo que se encontra compactado e disponível nas bibliotecas para isso. Tendo transferido para seu próprio computador o arquivo desejado (que pode ser uma tese, um livro, a digitalização de um quadro, um mapa antigo, músicas, depoimentos etc), basta descompactá-lo (os arquivos são comprimidos para tornar sua transferência via modem mais rápida) e imprimi-lo, poupando meses, até, na busca e aquisição de um texto ou qualquer outro dado. Alguns sites de instituições, como o do Projeto Gutemberg, o WebMuseum e alguns sites universitários, também mantêm vários textos e digitalizações das imagens disponíveis para download.
 
O que faz do computador uma ferramenta importante para o pesquisador é principalmente sua capacidade de rearranjos constantes: os únicos limites são dados pelas características da máquina  e dos acessórios que ela possui (hardware) e, mesmo assim, pode-se sempre fazer melhorias (upgrades) num computador, sem precisar substituí-lo, além de acrescentar novos acessórios e aumentar a capacidade de armazenamento de dados sempre que necessário. Várias novas funções dos computadores estão sendo popularizadas (gravação de sons digitais, imagens, captação de programas de televisão, etc.) e seu papel na pesquisa vem se tornando menos o de uma máquina de escrever sofisticada ou de uma calculadora e bem mais o de um ativo assistente de pesquisa.
 
O pouco uso que pesquisadores da área de ciências humanas vêm fazendo do computador e da Internet como meio de acesso a fontes de dados talvez se deva ao fato de que até bem recentemente não havia meios suficientes (e simples) de localizar e coletar (transportar) os dados. Com o desenvolvimento da rede Internet o número de bancos de dados vem aumentando rapidamente e hoje em dia dificilmente se pensa num tema sobre o qual não haja dados disponíveis de alguma forma, por via telefônica, na Net. Existem páginas e páginas (sites) sobre qualquer tema, sem falar nas facilidades oferecidas pelos jornais eletrônicos (do Times ao Le Monde, da Folha de São Paulo ao Diário de Borborema), livros sagrados digitalizados, livros-arquivos para serem copiados e impressos, poesia, literatura, museus com obras de artistas do mundo todo, dados de órgãos governamentais, sites de letras clássicas, mitologias, universidades etc. Todo tipo de informação está acessível na Net ou através dela. Entidades financiadoras como a FAPESP, o CNPq, a Ford Foundation, além de várias outras instituições, disponibilizam informações, dados, e até mesmo os formulários para download  e impressão em nossa impressora, em casa, poupando tempo e dinheiro em questões burocráticas.
 
Não se pode fugir, pelo menos enquanto não entra em funcionamento a Internet II (de exclusivo uso acadêmico) à chateação (para o antropólogo, mas não, por exemplo, para o publicitário) de ter que passar por páginas comerciais, experiências multimídia e outras que tomam nosso tempo quando estamos em busca de algum dado específico. Estas páginas são compostas em geral de fotos trabalhadas ou com interferências criativas, e não de fotos documentais, das coisas “como elas são”. Mas podem constituir excelente material de pesquisa em antropologia visual, fotografia, semiótica e outras.
 
Uma vez que os dados estão digitalizados e capturados, o computador pode ser usado também para percorrê-los, reduzi-los, extraí-los, administrá-los, analisá-los e revelar sentidos, padrões. Alguns pesquisadores americanos começaram mesmo a desenvolver um corpus de conhecimento e softwares na última década. Já existem programas que podem realizar algumas das tarefas “braçais” da pesquisa de certos aspectos da cultura, como etnolinguística, etnomatemática, etnobotânica etc., que exigem classificações, contagens, acesso a fichas etc. E ainda, como a pesquisa qualitativa tem necessidades especiais, e mesmo considerando o pequeno mercado, já existem pelo menos dois programas especialmente desenvolvidos para responder a estas necessidades relacionadas à administração de dados das pesquisas de campo. Estes programas apesar de já um pouco antigos são pouco conhecidos no Brasil e, devido ao fato de que os antropólogos constituem um grupo muitíssimo menor do que o das áreas de exatas e biológicas, programas como Etnograph e Kwalitan, até onde pude saber, têm muito menos suporte (assistência operacional), menos documentação, pouca atenção para o feedback do usuário, interfaces (modo de operação, na tela) pobres e maiores períodos sem atualizações do que programas como, digamos, os browsers (páginadores-- programas de acesso à Internet). Eles em geral são escritos por pesquisadores solitários e não por equipes de programadores profissionais e, assim, tendem a ser infestados de bugs (problemas de programação), incompatibilidades e necessidade de aperfeiçoamento.
 
Nos textos postados na Usenet , nos BBSs, nas listas de discussão e a WWW (World Wide Web ), um pesquisador interessado em coletar dados e opiniões sobre assuntos específicos não encontrará grandes dificuldades. Os mecanismos de busca como Google, Yahoo, Altavista, Lycos, Cadê?, entre centenas de outros,  tornam possível, por exemplo, encontrar todas as mensagens sobre certos assuntos (folclore, ateísmo, doenças, esoterismos, religiões, negócios, política e milhares de outros) que foram trocadas nas redes de mensagens nos últimos dias. Um dos problemas a serem enfrentados, entretanto, é o de que muitos destes dados textuais são efêmeros. Nem todos eles são arquivados pelos provedores e, assim, o pesquisador pode coletar tudo que foi escrito sobre um determinado período em que está acompanhando uma lista de discussão sobre homossexualismo, por exemplo, mas é quase certo que não poderá ver como as atitudes a respeito deste tema especifico mudaram em alguns anos.
 
Outra situação comum é as pessoas (especialistas ou não) criarem sites com seus próprios textos e informações na Net e que desaparecem quando o site muda de endereço (URL ), quando o provedor fecha ou o responsável pelo site simplesmente não quer mais pagar a hospedagem de suas páginas  ou mesmo já não deseja mais mantê-la. Quem acessa  a Internet freqüentemente conhece o famoso Error 404- File Not. Found, que indica que alguma página que anteriormente se encontrava ali já não pode ser encontrada. A armazenagem de dados para a infinidade de material postado na Net (bilhões de palavras aparecem nas mais de cinco mil listas de discussão da Usenet por dia), apesar de não ser cara, não é gratuita, e o custo para arquivar tudo isso seria astronômico. Em qualquer caso, quem começa uma pesquisa procurando dados na Internet deve saber que eles devem ser garimpados com a mesma paciência de quem procura no sebo os livros “certos”.
 
hare krshnaTodas estas vias podem ser utilizadas, portanto, para verificar a existência de dados, a pertinência de um problema proposto pela pesquisa, para contatar informantes e outros pesquisadores etc. Em minha pesquisa sobre festas no Brasil, utilizando estes recursos encontrei centenas de sites brasileiros sobre festas locais e de outros países, produzidos pelos próprios “festeiros”, com dados qualitativos, quantitativos, fotos (que pude inclusive usar em minha tese depois de pedir autorização, via e-mail, aos  webmasters responsáveis) e sons, dados governamentais como os da Embratur e seus projetos de incentivo ao turismo através das festas e outros sites, menos significativos, administrados por empresas de turismo que contudo, em conjunto, também constituíam um dado importante.  Havia ainda sites europeus sobre folclore e temas afins. Livrarias online como a Booknet, brasileira, e a Amazon.com ajudaram a conseguir livros difíceis de encontrar em São Paulo e/ou Brasil,  a preços vantajosos, entregues em casa, com pagamento através de cartão de crédito. Até mesmo sebos puderam ser consultados online, como o Sebo Brandão, ao qual se pode consultar via e-mail sobre a existência ou não de um dado livro em seu estoque e, se houver e o preço interessar, solicitar o envio a qualquer parte do Brasil ou do mundo. Gallimard, Barnies e outras importantes livrarias internacionais também mantém seus sites de venda online com catálogos atualizados constantemente. Existem, ainda, inúmeros Dicionários e Enciclopédias Online, que podem fornecer dados de várias espécies.
 
Todos estes recursos são bastante úteis durante a elaboração e realização de um projeto de pesquisa e poupam tempo e dinheiro do pesquisador e da pesquisa. E embora existam poucos sites efetivamente dedicados à Antropologia, já se discute este potencial, nos meios acadêmicos internacionais:
 
There are notably no established electronic journals, ethnographic databases, photographic archives, or on-line courses or textbooks. Major institutions, including the AAA and the HRAF, seem to be unaware of the new possibilities for scholarly communication. This situation may be temporary, and we may be on the verge of an explosion of Internet development. However, several barriers confront future development. These include the problems of obtaining training and achieving proficiency in new skills, gaining and ensuring access to new resources, and assigning and protecting academic credit for new publication forms. (Schwimmer, 1996:566).


 

link para o portal da USP

quinta-feira, 10 de março de 2011

TRIBOS URBANAS: metáfora ou categoria?
José Guilherme Cantor Magnani
 
Selvagens, desajustados?
 
Punks sentados num muroQuando a imprensa noticia certo tipo de ocorrência, geralmente envolvendo grupos de jovens ou adolescentes –enfrentamentos entre bandos rivais, comportamento em shows e festivais, pichações etc.– inevitavelmente aparece o termo "tribos urbanas" no box explicativo que acompanha a matéria.
Com essa referência o que se pretende é introduzir algum princípio de ordenamento num universo que se caracteriza exatamente por sua fragmentação e singularidade. Analisando mais de perto essa tentativa de explicação, percebe-se que na maioria das vezes o caráter das transgressões identificado em tais manifestações não extrapola um limiar até certo ponto previsto e tolerado como característico de determinada faixa etária. Quando os efeitos de tais práticas vão além desse limiar, muda o enfoque: está-se no âmbito da delinqüência, do banditismo, da violência urbana.
Algumas dessas ocorrências, contudo, oscilam entre as fronteiras do tolerado e do francamente reprovado: é o caso das pichações, que introduzem uma tensão entre a natureza de seus protagonistas ("adolescentes em fase de auto-afirmação") e os danos que suas intervenções produzem no patrimônio público ou privado. Fica-se na dúvida entre acionar os policiais da Secretaria de Segurança, os psicólogos da Saúde ou os teóricos da Secretaria da Cultura. Um pouco "selvagens" demais, os integrantes dessa tribo...
Este quadro mostra, entre outras coisas, a ambigüidade do uso do termo "tribos urbanas" em seu uso corriqueiro, tal como aparece no senso comum e na mídia. Que dizer, então, de seu emprego em pesquisas e trabalhos ditos científicos?
 
 
 
Metáfora ou categoria
A primeira observação é: quando se fala em "tribos urbanas" é preciso não esquecer que na realidade está-se usando uma metáfora, não uma categoria. E a diferença é que enquanto aquela é tomada de outro domínio, e empregada em sua totalidade, categoria é construída para recortar, descrever e explicar algum fenômeno a partir de um esquema conceitual previamente escolhido. Pode até vir emprestada de outra área, mas neste caso deverá passar por um processo de reconstrução.
A metáfora, não: traz consigo a denotação e todas as conotações distintivas de seu uso inicial. Por algum desses traços é que foi escolhida, tornando-se metáfora exatamente nessa transposição: o significado original é aplicado a um novo campo. A vantagem que oferece é poder delimitar um problema para o qual ainda não se tem um enquadramento. É usada no lugar de algo, substitui-o, dá-lhe um nome. Evoca o contexto original, em vez de estabelecer distinções claras e precisas no contexto presente. O problema, contudo, que acarreta é que dá a impressão de descrever, de forma total e acabada, o fenômeno que se quer estudar, aceitando-se como dado exatamente aquilo que é preciso explicar. Para apreciar devidamente os limites e alcances de seu emprego, é preciso antes de mais nada ter presente qual é o domínio, o sistema de significações de onde foi tirada.
E qual é o domínio original de "tribo"? A etnologia e, nela, uma forma de organização de sociedades que constituíram o primeiro e mais significativo objeto de estudo da antropologia.
Não deixa de ser sintomático o fato de se tomar emprestado um termo usual no estudo das sociedades de pequena escala para descrever fenômenos que ocorrem em sociedades contemporâneas altamente urbanizadas e densamente povoadas. O recurso parece deslocado mas é exatamente isso que se quer com o uso de metáforas: um de seus efeitos é projetar luz de forma contrastante sobre aquilo que se pretende explicar.
Para poder avaliar até que ponto esse termo ajuda a entender tais fenômenos, nas sociedades modernas, é preciso inicialmente descobrir os significados que ele tem no campo em que é manejado como termo técnico, nas sociedades indígenas. O segundo passo é identificar que relação existe entre o recorte original e aquele que se produz com a utilização no novo contexto.
GrungesSem entrar em detalhes e controvérsias que não cabem nos limites e propósito deste artigo, pode-se dizer que tribo constitui uma forma de organização mais ampla que vai além das divisões de clã ou linhagem de um lado e da aldeia, de outro. Trata-se de um pacto que aciona lealdades para além dos particularismos de grupos domésticos e locais(1).
E o que é que vem à mente quando se fala em "tribos urbanas"? Exatamente o contrário dessa acepção: pensa-se logo em pequenos grupos bem delimitados, com regras e costumes particulares em contraste com o caráter homogêneo e massificado que comumente se atribui ao estilo de vida das grandes cidades. Não deixa de ser paradoxal o uso de um termo para conotar exatamente o contrário daquilo que seu emprego técnico denota: no contexto das sociedades indígenas "tribo" aponta para alianças mais amplas; nas sociedades urbano-industriais evoca particularismos, estabelece pequenos recortes, exibe símbolos e marcas de uso e significado restritos.
Por isso é que não se pode tomar um termo de um contexto e usá-lo em outro, sem mais - ou ao menos sem ter presente as reduções que tal transposição acarreta. Como categoria, tribo quer dizer uma coisa; enquanto metáfora, é forçada a dizer outras, até mesmo contra aquele sentido original. Sendo metáfora, "tribo" evoca, mais do que recorta. E evoca o quê? Primitivo, selvagem, natural, comunitário – características que se supõe estarem associadas, acertadamente ou não, ao modo de vida de povos que apresentam, num certo nível, a organização tribal. O fato de substituir a precisão do significado original por imagens associadas de forma livre (e algumas delas incorretamente) é que dá ao termo "tribo" seu poder evocativo, permitindo-lhe designar realidades e situações bastante heterogêneas.
 
 
Usos e abusos
Esta liberdade que a metáfora possibilita não a desqualifica em contextos de pesquisa e análise; exige, contudo, que se tenha presente que seu emprego não é unívoco e que se tomem os cuidados correspondentes, sob pena de, aí sim, torná-la equívoca. Sem esse exercício prévio corre-se o risco de iniciar o trabalho na base de uma convenção do tipo: todos sabem do que se está falando, quando na realidade cada qual lê o termo em questão (no caso tribo) com um significado diferente. E na maioria das vezes, segundo o senso comum mais rastaqüera.
A seguir, rapidamente, alguns significados de seu emprego em textos a respeito da cidade e seus personagens.
Um primeiro significado, mais geral, de tribo urbana, tem como referente determinada escala que serve para designar uma tendência oposta ao gigantismo das instituições e do Estado nas sociedades modernas: diante da impessoalidade e anonimato destas últimas, tribo permitiria agrupar os iguais, possibilitando-lhes intensas vivências comuns, o estabelecimento de laços pessoais e lealdades, a criação de códigos de comunicação e comportamento particulares.
Em outros contexto, tribo evoca o "primitivo" e designa pequenos grupos concretos com ênfase não já em seu tamanho, mas nos elementos que seus integrantes usam para estabelecer diferenças com o comportamento "normal": os cortes de cabelo e tatuagens de punks, carecas, a cor da roupa dos darks e assim por diante.
Quando evoca o "selvagem", o termo designa principalmente o comportamento agressivo, contestatário e "anti-social" desses grupos e as práticas de vandalismo e violência atribuídas a outros como as gangues de pichadores, as torcidas organizadas.
Ravers  Fonte: www.mouseplanet.com/ notebookGrandes concentrações – concertos de rock em estádios, shows e outras manifestações (envolvendo ou não consumo de drogas ou comportamentos coletivos tidos como irracionais) ensejam também o emprego de "tribos urbanas". Neste caso o que se evoca é algo confusamente imaginado como "cerimônias primitivas totêmicas". E assim por diante.
Por último é preciso ainda levar em conta que até mesmo a particular idéia que vê na tribo indígena uma comunidade homogênea de trabalho, consumo, reprodução e vivências através de mitos e ritos coletivos(2), não se aplica às chamadas "tribos urbanas": sob esta denominação costuma-se designar grupos cujos integrantes vivem simultânea ou alternadamente muitas realidades e papéis, assumindo sua tribo apenas em determinados períodos ou lugares.
É o caso, por exemplo, do rapper que oito horas por dia é office-boy; do vestibulando que nos fins de semana é rockabilly; do bancário que só após o expediente é clubber; do universitário que à noite é gótico; do secundarista que nas madrugadas é pichador, e assim por diante.
 
 
Concluindo
Uma análise das utilizações mais freqüentes da expressão "tribos urbanas" mostra que na maioria dos casos não se vai além do nível da metáfora. Assim, esse termo – a menos que seja empregado após um trabalho prévio com o propósito de definir seu sentido e alcance – não é adequado para designar, de forma unívoca e consistente, nenhum grupo ou comportamento no contexto das práticas urbanas. Pode constituir um ponto de partida mas não de chegada, pois não constitui um instrumento capaz de descrever, classificar e explicar as realidades que comumente abrange.
Ao invés de tentar reduzir os múltiplos grupos e práticas a um suposto denominador comum, mais proveitoso seria explorar sua diversidade na paisagem urbana, procurando determinar as relações que estabelecem entre si e com outras instâncias da vida social.
Uma possível estratégia de pesquisa poderia, por exemplo, começar por um primeiro recorte, o da faixa etária, para ficar no universo de jovens e adolescentes.
O passo seguinte seria escolher como eixo da análise uma (ou várias) das facetas normalmente presentes na constituição e dinâmica desses grupos: o estabelecimento de laços de sociabilidade, a ênfase nos ritos de passagem, a presença de códigos de diferenciação, as formas de uso e apropriação do espaço urbano, as modalidades preferidas de entretenimento e lazer, etc. Um levantamento etnográfico encarregar-se-ia de mostrar a forma concreta e distintiva que cada grupo – ou aquele escolhido como objeto da pesquisa - dá a alguma dessas práticas.
Aí, sim, até que se poderia fazer referência às sociedades tribais pois nelas, assim como em outras formas de organização social, existe um cuidado especial com aqueles momentos em que membros de conjuntos etários em tempos de iniciação exercitam-se aprendendo, contestando ou pondo à prova a consistência das relações sociais que logo terão que assumir – passado o período da liminaridade – já então revestidos de um novo status.
Notas
1- Cfr. Evans-Pritchard, E.E., Os Nuer, São Paulo, Perspectiva, 1978; Sahlins, Marshall, Sociedades Tribais, Rio, Zahar, 1970. Atualmente há quem discuta a legitimidade desse uso do termo tribo: argumenta-se que a categoria apropriada, em qualquer caso, é sociedade. Tribo não passaria, então, de uma designação inadequada porque empregada para designar sociedades indígenas sem reconhecer seu direito e estatuto de verdadeira sociedade frente à sociedade nacional, inclusiva. Levando-se em conta, porém, o sentido e contexto do uso do termo tribo por  inúmeros autores - além dos citados - mantém-se, neste texto, a referência ao seu uso mais tradicional. 
2 - Homogeneidade que está longe de caracterizar a cultura, o modo de vida, os sistemas simbólicos desse tipo de sociedade.
 
Artigo originalmente publicado em “Cadernos de Campo - Revista dos alunos de pós-graduação em Antropologia”. Departamento de Antropologia, FFLCH/USP, São Paulo, ano 2, nº 2, 1992.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

 FRANZ BOAS 


[ críticas aos métodos da antropologia evolucionista, reação às teorias racialistas e objetivos da pesquisa antropológica]


    * Resumo
    * A antropologia evolucionista
    * Os pressupostos teórico-metodológicos da antropologia evolucionista
    * As críticas de Franz Boas aos pressupostos teórico-metodológicos da antropologia evolucionista
    * As teorias racialistas
    * Reação Boasiana às teorias racialistas
    * Propostas de Franz Boas quanto aos objetivos da pesquisa antropológica
    * Referências bibliográficas
    * Comentários (1)

FRANZ BOAS:

críticas aos métodos da antropologia evolucionista, reação às teorias racialistas e objetivos da pesquisa antropológica



Marcel Luis de Moraes Oliveira ¹




Resumo



A antropologia evolucionista que propunha uma única linha de desenvolvimento para a humanidade em geral e o racialismo, teoria que faz julgamentos de valor dos indivíduos a partir de características fenotípicas, eram dominantes até a primeira metade do século XX, quando Franz Boas, através de artigos e conferências analisados no presente texto, surge com críticas a essas teorias, propondo uma nova antropologia fundamentada no conceito de cultura como o mais importante para a diversidade humana, o relativismo metodológico, o método histórico e a necessidade de estudar cada cultura como uma cultura em si.



Palavras-chave: Franz Boas, antropologia evolucionista, teorias racialistas




A antropologia evolucionista

A antropologia evolucionista é uma das correntes da antropologia. Dominante até o início do século XX, tem como seus expoentes, Lewis Henry Morgan, Edward Burnett Tylor e James George Frazer. Partindo da observação de traços fundamentais em comum, essa linha interpretativa parte da suposição de uma história comum a toda humanidade.

            De acordo com Morgan (2004), essa linha de pensamento antropológico apreendia três estágios de desenvolvimento para a cultura humana:

    pode-se afirmar agora, com base em convincente evidência, que a selvageria precedeu a barbárie em todas as tribos da humanidade, assim como se sabe que a barbárie precedeu a civilização. A história da raça humana é uma só – na fonte, na experiência, no progresso. (p. 44)

          

Esses três estágios são capazes de explicar a ocorrência de elementos semelhantes em diferentes épocas e lugares do planeta e a grande variedade de culturas existentes no mundo. Nem todas alcançaram o último estágio de desenvolvimento – o europeu, havendo ainda muitos homens no estágio de selvageria e barbárie. Esses, considerados resquícios do passado.

            A antropologia, então, precisava responder uma série de questões, como os selvagens passaram à condição de selvagens e esses à civilização? Por que algumas tribos foram deixadas para trás na trajetória do desenvolvimento humano enquanto outras evoluíram mais rapidamente? E quais são as leis gerais que governam o desenvolvimento humano? E, é possível a partir do conhecimento dessas leis regular o agir humano? Sendo estas últimas o verdadeiro objetivo antropológico na visão de Frazer (2004).


Os pressupostos teórico-metodológicos da antropologia evolucionista

Para chegar a tais respostas, a antropologia evolucionista utiliza o método comparativo (ou novo método) como metodologia, partindo do pressuposto teórico de uma única mentalidade capaz de gerar único caminho de desenvolvimento possível para a sociedade humana,

    o estudo pode ser descrito como a embriologia do pensamento e das instituições humanas, ou, para ser mais preciso, como aquela pesquisa que busca verificar, primeiro, as crenças e costumes dos selvagens, e, segundo, as relíquias dessas crenças e costumes que sobreviveram como fósseis entre povos de cultura mais elevada (FRAZER, 2004, p. 106)

          

A idéia de considerar as tribos não-européias como fósseis vivos, passíveis de estudo, é evidenciada no seguinte trecho:

    Em suma, a selvageria é a condição primitiva da humanidade, e, se quisermos entender o que era o homem primitivo, temos que saber o que é o homem selvagem hoje. (ibidem, p. 108)

          

Entretanto, o autor salienta que os selvagens hoje, são primitivos quando comparados com a cultura européia, não em relação ao homem primitivo original, tal como ele emergiu do estado de existência bestial, quando colocado ao lado destes, o selvagem moderno é um ser altamente desenvolvido e culto.

            Por conta dessa diferença entre o homem selvagem atual e o primevo, ficam muitos abismos na compreensão da evolução humana que só podem ser cobertos por hipóteses.

    Na antropologia, como na biologia, tais ligações são construídas pelo Método Comparativo, que nos capacita a tomar emprestado os elos de uma cadeia de evidências para suprir as faltas em outra. (…) a legitimidade do Método Comparativo assenta-se na bem estabelecida similaridade do funcionamento da mente humana em todas as raças de homens, (ibidem, p. 120)

          

O método comparativo surge então considerando uma igualdade geral da natureza humana, na figura dos “germes primários de pensamento” (MORGAN, 2004, p.44) que levam os homens à evolução. A partir da disposição lado a lado das culturas e comparação entre tais elementos, torna-se possível conhecer a trajetória da evolução da humanidade, estabelecer as leis que regem essa evolução e descobrir os estágios em que cada povo comparado se encontra.


As críticas de Franz Boas aos pressupostos teórico-metodológicos da antropologia evolucionista

A primeira crítica boasiana a tais pressupostos reside no fato de que a mentalidade humana não é algo uniforme e obedece a um conjunto determinado de leis, tampouco os são os possíveis caminhos para o desenvolvimento das sociedades:

    As idéias não existem de forma idêntica por toda parte: elas variam. Tem-se acumulado material suficiente para mostrar que as causas dessas variações são tanto externas, isto é, baseadas no ambiente (…), quanto internas, isto é, fundadas sobre condições psicológicas. A influência dos fatores externos e internos corporifica um grupo de leis que governa o desenvolvimento da cultura. (BOAS, 2009, p. 27)



            Como a mente humana é complexa e variada, também o são as instituições, invenções e descobertas criadas a partir dela. Boas não aceita o pressuposto teórico de que os mesmos fenômenos se desenvolvam da mesma maneira e a partir da mesma causa em todo lugar, afirmando que há uma multiplicidade de caminhos para que esses fenômenos possam se desenvolver.

            Para o autor, antes de tomar os fenômenos humanos como unigênitos, deve-se primeiro considerar a comparabilidade do material. Para ele, é inconcebível comparar tribos completamente diferentes, que surgiram de forma díspar e supor que suas invenções se dão a partir da mesma causa. Antes, é preciso verificar se tais fenômenos não teriam se desenvolvido de maneira independente ou se teriam sido transmitidas de um povo a outro.

            Para evitar amarrar os fenômenos e forçar sua adequação dentro de uma camisa-de-força teórica – o estabelecimento de grandes generalizações, Franz Boas sugere o estudo das culturas tomadas individualmente e em sua totalidade, para a partir daí avançar para a busca das leis régias da sociedade e não o contrário. Esse método de indução empírica é chamado de “método histórico” e é defendido por Boas como oposição ao ineficaz método comparativo.


As teorias racialistas

Para Todorov (1993), racialismo é a teoria produzida na Europa Ocidental entre os séculos XVIII e XX a partir de diferenças constatadas em análises do próprio grupo humano, fundamentado em idéias etnocêntricas, essa doutrina surge de julgamentos de valor que são feitos após as descrições sobre os outros encontrados pelos navegantes na África e na América. Tem entre os seus representantes, Buffon, Renan, Le Bon, Taine e Gobineau.

            Essa teoria afirma a existência de uma “hierarquia humana com base biológica, hierarquia esta que tem uma suposta analogia com a produção cultural dos diferentes grupos”. (JESUS, 2008, p. 174) Buffon (apud TODOROV, 1993) considera os homens pertencentes a uma mesma espécie (algo confirmado pela fecundação mútua) e, portanto, pode-se julgá-los pelos mesmos critérios.

            O autor sugere uma hierarquização através da sociabilidade e grau de civilização que um povo pode alcançar, criando oposições entre a civilização ou a polidez versus a barbárie e a selvageria. Partindo dessa lógica, no topo da pirâmide racial estão os europeus ocidentais, logo em seguida, os outros europeus, abaixo, as populações asiáticas e africanas, e na base, estão os selvagens americanos.

            Essas diferenciações sociais levam o autor a interrogar-se sobre a unidade do gênero humano, encontrando três parâmetros constituintes da variedade no gênero humano: a cor da pele, a forma/tamanho do corpo e a cultura. É importante ressaltar que para Buffon, o físico e o moral se misturam enquanto características capazes de diferenciar as raças humanas.

            Outro intelectual racialista, Renan (apud TODOROV, 1993), a partir da oposição entre arianos e semitas, propõe uma hierarquização dos indivíduos na categoria raça, através da humanidade em brancos (os mais superiores), amarelos e pretos (os mais inferiores). Estando a raça negra no final dessa estratificação, sua tendência é ser eliminada, já que sua inferioridade racial a torna incivilizável e não suscetível ao progresso, enquanto a raça branca é o padrão absoluto de beleza, inclusive, nunca tendo conhecido o estado selvagem.

            As teorias racialistas consideram a mistura das raças como uma degradação e atribuem toda degeneração à mistura de sangues: “os povos só degeneram em seguida às misturas e na proporção em que sofrem” (JESUS, 2008, p. 182). A mistura de raças faria com que os povos acabassem perdendo seus valores intrínsecos, já que seu sangue foi paulatinamente modificado através dos acréscimos resultantes das misturas.

          
Reação Boasiana às teorias racialistas

Em 1931, Franz Boas, então presidente da American Association for the Advancement of Science (AAAS), faz uma conferência, reproduzida em “Raça e Progresso” que critica vigorosamente estas teorias, até então dominantes no senso comum e no ambiente acadêmico.

    Acredito que o estado atual de nosso conhecimento nos autoriza a dizer que, embora os indivíduos difiram, as diferenças biológicas entre as raças são pequenas. Não há razão para acreditar que uma raça seja naturalmente mais inteligente, dotada de grande força de vontade, ou emocionalmente mais estável do que outra, e que essa diferença iria influenciar significativamente sua cultura. Também não há razão para acreditar que as diferenças entre as raças são tão grandes, que os descendentes de casamentos mistos devem ser inferiores a seus pais. Biologicamente não há razão para se opor à endogenia em grupos saudáveis, nem à mistura das principais raças. (BOAS, 2009, p. 82)

          

Esse trecho retirado da referida conferência resume a recusa boasiana ao pensamento vigente da época. O autor começa sua argumentação desconstruindo o tipo ideal de cada uma das raças, apontando para a existência de diversos indivíduos que pertencem àquele grupo racial e que não se enquadram nos preconceitos abstraídos a partir de nossas experiências mais cotidianas que nos induzem a formação de padrões para as raças.

            Essa variabilidade de características é comum a todos os grupos étnicos e é resultado da mistura de raças, mistura essa que desempenhou um papel importante na formação de várias populações modernas, inclusive as européias. Boas pontua que não há evidências de que mestiços sejam inferiores de qualquer maneira às raças ditas puras, chamando atenção para que a degeneração biológica é mais facilmente encontrada em sociedades com intensa endogamia.

            No referente às características raciais, o autor sugere que elas não são totalmente estáveis e que estão mais sujeitas a modificações influenciadas pelo ambiente social e geográfico do que por fatores étnicos da mesma maneira que ele desconsidera o resultado dos chamados testes de inteligência, por acreditar que o ambiente cultural dos indivíduos é o fator mais importante para determinar o resultado desses testes, não o conjunto de características fenotípicas.

            Boas propõe também que a problemática da mistura racial é mais influenciada por questões culturais que biológicas. Grupos sociais tendem a não permitir que seres estranhos venham se juntar e aponta como esse fenômeno se dá nas mais diversas esferas e ainda contrapõe o argumento racialista de que as raças inferiores tendem a ser subjugadas pelas superiores, sendo a guerra o instrumento usado para a “poda” humana, afirmando que na guerra, são os fisicamente fortes que são eliminados e os “devastadores flagelos da humanidade” são espalhados independentemente da raça.


Propostas de Franz Boas quanto aos objetivos da pesquisa antropológica



Franz Boas (2009) afirma que o objetivo almejado com o estudo da humanidade é a “tentativa de compreender os passos pelos quais o homem tornou-se aquilo que é biológica, psicológica e culturalmente.” (p. 88) Para que a antropologia possa alcançar tal objetivo é necessário que ela recorra à história, de modo que seja possível a compreensão do desenvolvimento da forma corporal humana, das suas funções fisiológicas, da sua mente e da cultura:

    A menos que saibamos como a cultura de cada grupo humano se tornou aquilo que é, não podemos ter a esperança de alcançar qualquer conclusão relativa às condições que controlam a história geral da cultura. (ibidem, p. 97)

          

O estudo da história das culturas fornece pistas para que se possa compreender como as culturas se tornaram aquilo que são. O entendimento da dinâmica das sociedades existentes também facilita a compreensão dos processos históricos e da evolução das formas de vida.

            Conhecer a maneira como as culturas se estabeleceram e se firmaram nas sociedades permite compreender, através das relações entre indivíduo e sociedade, os fenômenos individuais, e isso mais que estabelecer leis gerais do desenvolvimento da humanidade sem considerar a reação do indivíduo à cultura, como pretendia a antropologia evolucionista combatida por Boas.

Considerando essa reação individual à cultura, a análise de culturas estrangeiras habilitaria o observador a analisar os seus próprios comportamentos e se perceber enquanto um produto cultural. Ao constatar quais traços de comportamento são moldadas pela cultura, o pesquisador pode compreender quais são universais a todos os seres humanos e partindo desse conhecimento sobre a “universalidade e da variedade das culturas, a antropologia pode nos ajudar a moldar o futuro curso da humanidade.” (ibidem, p. 109)


Referências bibliográficas



    * BOAS, Franz. As limitações do método comparativo da antropologia. In: Antropologia cultural. Trad. Celso Castro – 5. Ed. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2009.
    * ________. Os objetivos da pesquisa antropológica. In: Antropologia cultural. Trad. Celso Castro – 5. Ed. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2009
    * ________. Raça e progresso. In: Antropologia cultural. Trad. Celso Castro – 5. Ed. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2009.
    * FRAZER, James George. O escopo da antropologia social. In: Evolucionismo cultural. Org. Celso Castro – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2004.
    * JESUS, Marcelo Siqueira de. A dialética da teoria racialista como saber para problematizar em pesquisas sobre questões raciais no campo da educação física escolar. In: Motrivivência. Ano XX. Nº 30, 2008, PP. 169-184.
    * MORGAN, Lewis Henry. A sociedade antiga ou investigações sobre as linhas do progresso humano desde a selvageria, através da barbárie, até a civilização. In: Evolucionismo cultural. Org. Celso Castro – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2004.
    * TODOROV, Tzveten. Nós e os outros: a reflexão francesa sobre a diversidade humana. Trad. Sérgio Góes de Paula. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1993.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A Cultura Cigana


Gypsies, gitanos, zíngaros, ciganas pessoas Rom, juntamente com os Sintos e os Calon ou Calé são designados vulgarmente por "Ciganos". São pessoas tradicionalmente nómadas, originárias do norte da Índia e que hoje vivem espalhadas pelo mundo, especialmente na Europa, sendo sempre uma minoria étnica nos países onde vivem.

A maioria dos Roms fala alguma forma do idioma romanês, língua muito próxima das modernas línguas indo-europeias do norte da Índia e do Paquistão. A moderna antropologia relacionou a língua romani com as línguas punjabi e potohari, faladas no norte do Paquistão.

Os Rom são muitas vezes tidos como possuidores de poderes psíquicos (há mesmo o estereótipo do "cigano que prevê o futuro"), e a invenção do tarô é-lhes por vezes creditada.


As Caravanas - Acampamento em Arles, França, pelo pintor Vincent van Gogh.


Maiores concentrações de ciganos no Mundo:

Alemanha : 100.000
Albânia: 70.000
Argentina: 317.000
Bósnia 17.000
Brasil: 678.000
Bulgária: 700.000 - 800.000
Croácia: 9.463
Espanha : 600.000–800.000
Finlândia: 10.000
Grécia: 300.000-350.000
Hungria: 190.046 (2001 censos)
Irão: 110.000
Macedônia: 53.879
Montenegro: 2.601
Polónia: 15.000–50.000
Portugal: 40.000
Reino Unido: 40.000
República Checa: 120,000 - 220,000
Roménia: 535.140 (2002 censos), outros censos calculam entre 1.500.000 - 2.000.000
Rússia: 183.000
Sérvia: 108.193
Eslováquia: 92.500
Turquia : não oficial 500.000 - 2 milhões de pessoas.
Ucrânia: 48.000












Segundo Carlos Fontes, são originários da Intuía, os primeiros ciganos terão começado a entrar na Europa por volta do século XII. As primeiras notícias da sua presença em Portugal datam da segunda metade do século XV.  



Algumas dezenas de anos depois de se instalarem em Portugal, já os ciganos estavam identificados com a imagem negativa que irá perdurar até aos nossos dias e que continuamente será evocada para os reprimir ou expulsar. A comunidade cigana resistiu a tudo e aqui permaneceu.

Hoje enfrenta um novo e decisivo desafio: a integração imposta em nome do progresso e dos direitos humanos.

Gil Vicente, dedicou-lhes uma peça de teatro - Farsa de Ciganos - representada em Évora, em 1521 ou 1525. Nesta altura, os ciganos são já identificados como comunidade de gente nómada que se dedica a roubar num sítio aquilo que vão vender no outro. Dominam o comércio das cavalgaduras, em especial aquelas que se encontram doentes fazendo-as passar por animais de boa saúde. Celebrizaram-se também por se dedicaram às práticas de feitiçaria, quiromancia e cartomancia.

Percorrem o país em bandos (quadrilhas) a que se juntam não raro, outros foragidos às malhas da Lei.

Evocando tudo isto, D. João III, pelo Alvará de 13 de Março de 1526, proibiu-os de entraram em Portugal, ordenando a expulsão de todos os que aqui viviam. Ao longo dos séculos são inúmeras as leis promulgadas com idêntica finalidade. Sempre mais severas, mas sempre inúteis. Uma das últimas, foi a de D. João V, em 10 de Dezembro de 1718.

A partir do século XIX, o Estado deixou de colocar a questão da expulsão dos ciganos, passando a considerá-los cidadãos portugueses, embora soubesse que estes se auto-excluem de prestar qualquer serviço à comunidade, nem se manifestam dispostos a aceitarem as suas leis.

Nas últimas décadas, o modo de vida dos ciganos pouco se alterou, enquanto Portugal permaneceu um país essencialmente rural. Os ciganos continuaram a ser nómadas, dedicando-se ao comércio ambulante.

O abandono dos campos e a concentração da população portuguesa nas cidades, acabou por forçar os ciganos a sedentarizarem-se, tendo a maioria deles fixando-se nas períferias das cidades, onde continuaram a dedicaram-se à venda ambulante, nomeadamente de produtos contrafeitos.

As tradicionais tendas foram substituídas por bairros de barracas. As carroças puxadas mulas foram substituídas por carrinhas.

Apesar de tudo, os ciganos continuaram a resistir a todo e qualquer processo de integração. As crianças, sobretudo as raparigas, continuaram a não frequentar as escolas. A escola continua a ser vista como uma ameaça à própria sobrevivência das tradições e unidade da comunidade cigana.

Nos anos oitenta do século XX, um crescente número  de ciganos envolvem-se no comércio de droga. Famílias e famílias de ciganos e não ciganos são destruídas por este negócio que marcará esta comunidade. Este comércio acaba por reacender por todo o país as manifestações racistas tendo como alvo os ciganos.

Face ao eclodir de "milícias populares" para lincharem estas comunidades ciganas, em 1991, o governo português lança finalmente um vasto programa de apoio à sua integração social.

O realojamento destas comunidades em bairros construídos para o efeito, está  longe de ter contribuído para a sua efectiva integração. Frequentemente, como acorre em Lisboa, os bairros habitados por ciganos estão transformados em locais de grande violência, assistindo-se à sua rápida degradação. Muitos destes bairros tornaram-se em verdadeiras bases de apoio para a actuação de bandos de criminosos. Facto que contribui para afastar os restantes moradores não-ciganos, ou para a não instalação das mais diversas actividades económicas nestes bairros,  potenciando desta forma a emergência  de verdadeiros guetos urbanos.

A instituição, em 1996, do "rendimento mínimo garantido", foi uma das medidas governamentais de maior alcance, pois permitiu que muitas crianças ciganas passassem a frequentar as escolas, uma exigência  para a atribuição do subsídio às famílias. A verdade, é que pouco depois também se constatou que os resultados da sua escolarização continuavam a ser muito modestos, dado a elevada taxa de abandono escolar logo após a atribuição do subsídio.

Existem em Portugal cerca de 30 a 50 mil ciganos. O seu número varia bastante conforme as fontes. Num Inquérito feito em 2001, junto das Câmaras Municipais e de outras entidades pela SOSRacismo foi apenas apurado um total 21 831 indivíduos de etnia cigana. Segundo este estudo as comunidades ciganas estão sobretudo concentradas no litoral e nas zonas fronteiriças (Lisboa, distritos de Viana do Castelo, Castelo Branco, Coimbra e Évora).

Em Mirandela, há vários modos de vida para os ciganos. Alguns vivem em acampamentos, sobretudo em Estanca-Rios, enquanto outros residem em bairros sociais, em apartamentos e até em vivendas com boas condições de habitabilidade. O seu modo de vida está sobretudo direccionado para a venda ambulante nas várias feiras do distrito de Bragança. Contudo, outros dedicam-se à mendicidade ou estão dependentes de prestações sociais como o Rendimento Social de Inserção. A Câmara Municipal de Mirandela tem recebido inúmeros ciganos em Programas Ocupacionais do IEFP, sobretudo na área da jardinagem.

O Abade de Baçal nas suas «Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança» dedica um texto aos ciganos no distrito de Bragança no tomo V. Segundo ele, aparecem pela primeira vez na Alemanha em 1417 donde se espalharam pelo resto da Europa. E quanto aos costumes, segundo os descrevem os escritores do tempo, eram os mesmos de hoje, isto é, vaguear de terra em terra, roubar quanto podiam, ler a buena dicha, pouca religião, vestidos imundos, rosto trigueiro amarelado, cabelos pretos. A buena dicha

Mais acrescenta que na legislação portuguesa se encontram diversos artigos referentes aos ciganos que mostram a importância numérica deste grupo étnico. O mais antigo que se conhece é o alvará de 13 de Março de 1526 que manda que não sejam admitidos no reino e que sejam expulsos os existentes.

O Abade de Baçal apresenta no tomo V, nas páginas 201 a 204, o calão dos ciganos no distrito de Bragança e a sua significação.

Hélder Rodrigues, professor em Carrazeda de Ansiães, concluiu, num estudo por si realizado e publicado em livro com o título “Ciganos – Percursos de integração e de reivindicação da identidade”, que o actual modelo de ensino não é eficaz para as crianças da comunidade cigana local. A prová-lo está a taxa de sucesso escolar no final do primeiro ciclo, ao longo dos últimos cinco anos, que é de 1,46%. Só com uma escola aberta e voltada para o ensino profissional os ciganos terão “condições para integrar o mercado de trabalho”.

Hélder Rodrigues conclui que a comunidade cigana é “gente pacata que vive na miséria”.
juntaram práticas supersticiosas de feitiçaria para melhor armar os efeitos rapinantes.



USOS, COSTUMES, CRENÇAS E RITUAIS

A família é sagrada para os ciganos. Os filhos normalmente representam uma forte fonte de subsistência. As mulheres através da prática de esmolar e da leitura de mãos. Os homens, atingida uma certa idade, são frequentemente iniciados em outras actividades como acompanhar o pai às feiras para ajudá-lo na venda de produtos artesanais.



Além do núcleo familiar, a família extensa, que compreende os parentes com os quais sempre são mantidas relações de convivência no mesmo grupo, comunhão de interesses e de negócios, possuem frequentes contratos, mesmo se as famílias vivem em lugares diferentes.

 
 Os ciganos não representam um povo compacto e homogéneo. Mesmo  pertencendo a uma única etnia, existe a hipótese de que a migração desde a Índia tenha sido fraccionada no tempo, e que desde a origem fossem divididos em grupos e subgrupos, falando dialectos diferentes.

As diferenças no tipo de vida, a forte vocação ao nomadismo de alguns, contra a tendência à sedentarização de outros gera uma série de contrastes que não se limitam a uma simples incapacidade de conviver pacificamente.

Em linhas gerais, os Sintos são menos conservadores e tendem a esquecer com maior rapidez a cultura dos pais. Talvez este facto não seja recente, mas de qualquer modo é atribuído às condições socioculturais nas quais por longo tempo viveram.

Quanto aos Rom de imigração mais recente, se nota ao invés uma maior tendência à conservação das tradições, da língua e dos costumes próprios dos diversos subgrupos. A sua origem desde países essencialmente agrícolas e ainda industrialmente atrasados (leste europeu) favoreceu certamente a conservação de modos de vida mais consoantes à sua origem.

Não é possível, também em razão da variedade constituída pela presença conjunta de vários grupos, fornecer uma explicação detalhada das diversas tradições. Alguns aspectos principais, ligados aos momentos mais importantes da existência, merecem ser descritos, ao menos em linhas gerais.

Antigamente era muito respeitado o período da gravidez e o tempo sucessivo ao nascimento do herdeiro; havia o conceito da impureza coligada ao nascimento, com várias proibições para a parturiente. Hoje a situação não é mais tão rígida; o aleitamento dura muito tempo, às vezes se prolongando por alguns anos.

No casamento tende-se a escolher o cônjuge dentro do próprio grupo ou subgrupo, com notáveis vantagens económicas. Um cigano pode casar-se com uma gadjí, isto é, uma mulher não cigana, a qual deverá porém submeter-se às regras e às tradições ciganas.

A importância do dote é fundamental especialmente para os Rom; no grupo dos Sintos se tende a realizar o casamento através da fuga e consequente regularização. Aos filhos é dada uma grande liberdade, mesmo porque logo deverão contribuir com o sustento da família e com o cuidado dos menores.

No que se refere à morte, o luto pelo desaparecimento de um companheiro dura em geral muito tempo. Junto aos Sintos parece prevalecer o costume de queimar-se a kampína (o trailer) e os objectos pertencentes ao defunto.

Entre os ritos fúnebres praticados pelos Rom está a pomána, banquete fúnebre no qual se celebra o aniversário da morte de uma pessoa. A abundância do alimento e das bebidas exprimem o desejo de paz e felicidade para o defunto.

Uma criança sempre é bem vinda entre os ciganos. É claro que sua preferência é para os filhos homens, para dar continuidade ao nome da família. A mulher cigana é considerada impura durante os quarenta dias de resguardo após o parto.

Logo que uma criança nasce, uma pessoa mais velha, ou da família, prepara um pão feito em casa, semelhante a uma hóstia e um vinho para oferecer ás três fadas do destino, que visitarão a criança no terceiro dia, para designar sua sorte. Esse pão e vinho serão repartidos no dia seguinte com todas as pessoas presentes, principalmente com as crianças.

Da mesma forma e com a finalidade de espantar os maus espíritos, a criança recebe um patuá assinalado com uma cruz bordada ou desenhada contendo incenso. O baptismo pode ser feito por qualquer pessoa do grupo e consiste em dar o nome e benzer a criança com água, sal e um galho verde. O baptismo na igreja não é obrigatório, embora a maioria opte pelo baptismo católico.

Desde pequenas, as meninas ciganas costumam ser prometidas em casamento. Os acertos normalmente são feitos pelos pais dos noivos, que decidem unir suas famílias.

O casamento é uma das tradições mais preservadas entre os ciganos, representa a continuidade da raça, por isso o casamento com os não ciganos não é permitido em hipótese alguma. Quando isso acontece a pessoa é excluída do grupo.

É pelo casamento que os ciganos entram no mundo dos adultos. Os noivos não podem ter nenhum tipo de intimidade antes do casamento. Quando o casamento acontece, durante três dias e três noites, os noivos ficam separados dando atenção aos convidados, somente na terceira noite é que podem ficar pela primeira vez a sós.

Mesmo assim, a grande maioria dos ciganos, ainda exige a virgindade da noiva. A noiva deve comprovar a virgindade através da mancha de sangue do lençol que é mostrada a todos no dia seguinte. Caso a noiva não seja virgem, ela pode ser devolvida para os pais e esses terão que pagar uma indemnização para os pais do noivo.

No caso da noiva ser virgem, na manhã seguinte do casamento ela se veste com uma roupa tradicional colorida e um lenço na cabeça, simbolizando que é uma mulher casada. Durante a festa de casamento, os convidados homens, sentam ao redor de uma mesa no chão e com um pão grande sem miolo, recebem dos os presentes dos noivos em dinheiro ou em ouro.

Estes são colocados dentro do pão ao mesmo tempo em que os noivos são abençoados. Em troca recebem lenços e flores artificiais para as mulheres. Geralmente a noiva é paga aos pais em moedas de ouro, a quantidade é definida pelo pai da noiva.

Quando os ciganos deixaram o Egipto e a Índia, eles passaram pela Pérsia, Turquia, Arménia, chegando até a Grécia, onde permaneceram por vários séculos antes de se espalharem pelo resto da Europa.





A influência trazida do oriente é muito forte na música e na dança cigana. A música e a dança cigana possuem influência hindu, húngaro, russo, árabe e espanhol. Mas a maior influência na música e na dança cigana dos últimos séculos é sem dúvida espanhola, reflectida no ritmo dos ciganos espanhóis que criaram um novo estilo baseado no flamenco.

 


Alguns grupos de ciganos no Brasil conservam a tradicional música e dança cigana húngara, um reflexo da música do leste europeu com toda influência do violino, que é o mais tradicional símbolo da música cigana. Liszt e Beethoven buscaram na música cigana inspiração para muitas de suas obras.


Tanto a música como a dança cigana sempre exerceram fascínio sobre grandes compositores, pintores e cineastas. Há exemplos na literatura, na poesia e na música de Bizet, Manuel de Falla e Carlos Saura que mostram nas suas obras muito do mistério que envolve a arte, a cultura e a trajectória desse povo.


Os ciganos acreditam na vida após a morte e seguem todos os rituais para aliviar a dor de seus antepassados que partiram. Costumam colocar no caixão da pessoa morta uma moeda para que ela possa pagar o canoeiro a travessia do grande rio que separa a vida da morte.

Antigamente costumava-se enterrar as pessoas com bens de maior valor, mas devido ao grande número de violação de túmulos este costume teve que ser mudado. Os ciganos não encomendam missa para seus entes queridos, mas oferecem uma cerimónia com água, flores, frutas e suas comidas predilectas, onde esperam que a alma da pessoa falecida compartilhe a cerimónia e se liberte gradativamente das coisas da Terra.

As cerimónias fúnebres são chamadas "Pomana" e são feitas periodicamente até completar um ano de morte. Os ciganos costumam fazer oferendas aos seus antepassados também nos túmulos.



LITERATURA
Existem alguns livros sobre o povo cigano, sendo o mais completo e interessante o livro «O Povo Cigano», de Olímpio Nunes, que aborda a história do povo cigano, a cultura cigana e o povo cigano no século XX.

A obra «Etnografia Portuguesa», de António Augusto da Rocha Peixoto (1866-1909) contém um artigo sobre os ciganos em Portugal (págs. 44 a 50), assim como o volume IV da «Etnografia Portuguesa», de Dr. José Leite de Vasconcelos, editada pela Imprensa Nacional- Casa da Moeda, em 1980. Os artigos são a origem e presença em Portugal, a vida material e as práticas, a organização política e social e a vida psí
quica.

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